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quarta-feira 14 de maio de 2025


Produção de macroalga começa a ganhar visibilidade em Penha

“Chegamos a conclusão de que Penha é um excelente lugar para o cultivo de macroalgas, principalmente por sua taxa de crescimento na primavera e verão”

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O cultivo da macroalga Kapaphycus alvarezii começa a ganhar contornos científicos e econômicos, em Penha. Liberada para ser produzida e comercializada no litoral catarinense, estudos científicos dão sustentação de viabilidade econômica à nova cadeia produtiva ao longo do atlântico penhense. Dois produtores já obtiveram cessão de áreas, na Praia da Paciência, para iniciarem o plantio, com posterior criação de uma unidade de beneficiamento da macroalga.

“Nesse ano de 2022, a gente evoluiu a nível de produção e a nível de informação, também. Eu estou orientando um aluno do curso de Oceanografia (Alexandre Balmer), em que nós estamos avaliando o crescimento dela em diferentes estações do ano e – principalmente observando esse crescimento e o ganho em biomassa durante as estações do ano”, explica o oceanógrafo com mestrado e doutorado em aquicultura, professor Gilberto Manzoni, detalhando que a cidade possui características que favorecerem a produção.

“Os resultados demonstram que o crescimento dela (macroalga) é excelente aqui na região, principalmente na primavera, verão e, até mesmo, no outono”

GILBERTO MANZONI

“Os resultados demonstram que o crescimento dela (macroalga) é excelente aqui na região, principalmente na primavera, verão e, até mesmo, no outono. No inverno, quando a temperatura da água começa a baixar dos 20 graus, diminui bastante o crescimento da alga, mas ela não morre – diferente de outras regiões, como no Sul do Estado”, completa Gilberto. A Kapaphycus alvarezii pode se tornar uma alternativa de renda para os maricultores, ao lado das ostras, mexilhões e vieiras

O pesquisador do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri (Cedap), Alex Alves dos Santos, comenta que “está macroalga é uma das espécies mais produzidas no mundo, pois dela se extrai um coloide ou um gelo, popularmente falando, chamado carragenana. Está substância tem propriedades espessante, estabilizante, aglutinante e emesulficante. Por essa razão é muito utilizada pelas indústrias química, alimentícia e de cosméticos.  Tais substâncias são muito usadas em diversas indústrias como farmacêutica, química, alimentícia e têxtil.

Mais dois produtores obtiveram aval para produzir, em Penha (Univali Penha)

“Para se ter uma ideia o Brasil importa uma média de 18 milhões de dólares por ano em carragenana”, completa o pesquisador. Este volume de importação é liderado pela indústria alimentícia, que utiliza a carragenana na confecção dos embutidos, como linguiças, salsichas, salames e também entra na composição de iogurtes, molhos, pastas de dentes, sorvetes e pudins. Contudo, um novo mercado se abriu para a macroalga: o de biofertilizante nas culturas de milho, soja e cana de açúcar. Hoje, há centenas de empresas que trabalham com fertilizantes e esta linha natural tem atraído muito o agronegócio brasileiro, por isso a alta demanda por esta alga.

OS PRIMEIROS DO RAMO

Com os estudos mostrando Penha como uma cidade próspera para a macroalga, Gilberto afirmou que quatro produtores já tem a cessão, iniciando uma produção em maior escala.  Dois desde 2021 e mais dois iniciaram no ano passado. “No final do ano dois maricultores (produtores de mexilhão) conseguiram a cessão de áreas para o plantio de macroalgas, que vai ficar ali na região da praia da Paciência. São dois produtos novos, que chegaram agora, e que também irão montar uma indústria para transformar essa alga em líquido – ou seja, triturar ela, prensar ela e fazer o líquido que é utilizado como biofertilizante. De 1 quilo de alga, tu tira 700 ml de líquido, um bom rendimento, e ainda sobra a biomassa seca”.

Produção supervisionada por técnica equipe (Univali Penha)

Para Gilberto, se essa projeção se confirmar, a cadeia produtiva da macroalga, em Penha, deve ganhar ainda mais força. “Esse ano parecer ser bem promissor. Com a chegada desses dois novos produtores, vai se criar uma estrutura de processamento dessas algas e com isso também abre uma boa perspectiva para os outros maricultuores – que eles vão ter, finalmente, para quem vender essa alga. A perspectiva, é de esse ano a Penha despontar na produção de macroalga”, acredita.

O Governo Federal liberou, em 2019, o estado de Santa Catarina à produzir e comercializar a macroalga. No ano passado, Univali e Epagri foram a campo para os primeiros estudos e plantios – que já mostraram o forte potencial da cidade para o cultivo. “Ano passado, num trabalho com a Epagri e Univali, dois produtores já iniciaram o trabalho. Já comercializaram a alga para Florianópolis, inclusive venderam algumas mudas para o pessoal da capital – já que a salinidade daquela região baixa no período de chuvas e as algas acabaram morrendo. Agora, estamos até mandando alga para Florianópolis para repor o cultivo por lá”, celebrou.

A PESQUISA DE ALEXANDRE

Ao longo do trabalho realizado pelo acadêmico Alexandre o mestre Gilberto, eles descobriram que a temperatura média da água, no inverno, é incapaz de matar a macroalga – situação oposta a do Sul do estado, outro celeiro da maricultura. “Uma coisa que a gente ficou bastante feliz, diferente dos outros locais do estado, é que aqui a água tem uma temperatura média mais elevada do que a região de Florianópolis. Então, aqui – durante o inverno – as algas não crescem, mas também não morrem. Essa é uma informação importante”, avalia Gilberto.

Estudante de oceanografia, Alexandre

A salinidade da água – que também precisa se manter em índice elevado – também é favorável em Penha, aponta o estudo. “Outra informação importante que a gente conseguiu obter foi a questão da resistência sobre a variação de salinidade da água (que oscila de acordo com o volume de chuva). Mesmo com chuva, que baixou a salinidade, em Penha a alga resistiu e não morreu. Com isso, chegamos a conclusão de que Penha é um excelente lugar para o cultivo de macroalgas, principalmente por sua taxa de crescimento na primavera e verão. Em um mês, no verão, ela passa de 100 gramas para 600 gramas”, finaliza Gilberto.

Santa Catarina estuda apoiar o cultivo comercial de macroalgas e ampliar renda dos maricultores

Maior produtor nacional de ostras e mexilhões, o estado quer incentivar a produção da macroalga Kappaphycus alvarezii, um produto altamente valorizado no mercado e que pode ser combinado com a maricultura. O projeto foi apresentado ao secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Valdir Colatto, nesta terça-feira, 10.

“A Secretaria da Agricultura deseja que a macroalga seja mais uma alternativa de renda para o homem do mar. Temos um produto de fácil cultivo, com mercado promissor e altamente valorizado, que, além de contribuir para a preservação do meio ambiente, ainda é capaz de produzir fertilizantes biológicos. Vamos incentivar essas culturas alternativas para que os produtores tenham mais opções de renda em Santa Catarina”, afirma o secretário Valdir Colatto.

Para incentivar a produção em Santa Catarina, a Secretaria da Agricultura deverá disponibilizar linha de crédito especial para os maricultores, com financiamentos sem juros para montagem implantação de fazendas marinhas. Santa Catarina já é um dos maiores produtores de macroalgas do Brasil, com uma produção de 100 toneladas. A intenção é ampliar para 350 toneladas até o final de 2023.  

Segundo o sócioproprietário da empresa Algas Brasil, Gabriel Ademir dos Santos, a demanda do setor é de mil toneladas de algas em 2023. “Hoje temos 25 produtores parceiros em Santa Catarina, com cultivos em Penha, Porto Belo, Governador Celso Ramos, Florianópolis, Palhoça e São Francisco do Sul. Grande parte da nossa produção atende ao agronegócio, 90% da produção está sendo usada como biofertilizante porque desenvolve muito bem a planta”, explica.

Outra grande vantagem da produção de macroalgas é o rápido crescimento da produção. “As mudas são plantadas com 30 gramas e, em 45 dias, estão prontas para a colheita com 500 gramas. No verão, as algas crescem 7% do seu tamanho por dia”, destaca Santos.

De acordo com estudos do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri, a produção de algas em sistema integrado de cultivo com moluscos (ostras, mexilhões e vieiras) pode atingir um peso úmido de 115,8 mil quilos de alga por hectare por ano, o que gera uma receita bruta de mais de R$ 200 mil anuais, sem contar o valor recebido com o comércio dos moluscos.

Maricultura em Santa Catarina

Santa Catarina é o maior produtor de moluscos do Brasil. São 478 maricultores envolvidos no cultivo de 16.253 toneladas de moluscos em 2020. Os mexilhões são os organismos mais produzidos, seguidos pelas ostras e por uma pequena produção de vieiras

O estado é o único do país que monitora permanentemente as áreas de cultivo. O Programa Estadual de Controle Higiênico Sanitário de Moluscos é um dos procedimentos de gestão e controle sanitário da cadeia produtiva, dando garantia e segurança para os produtores e consumidores.

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