Com a recente liberação para o cultivo comercial da macroalga Kappaphycus alvarezii, no Litoral de Santa Catarina, os maricultores de Penha ganham uma nova opção para incremento das receitas mensais. A autorização foi confirmada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no último dia 24, após anos de estudo sobre o impacto ambiental da espécie nos mares do estado.
“Nós já fizemos alguns experimentos dessa alga, junto com a Epagri, aqui na região. Ela se desenvolve muito bem, então, tem a possibilidade de ser mais uma espécie a ser cultivada na região”, afirmou o professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e ligado diretamente às causas da maricultura, Gilberto Manzoni. Apesar da autorização, ele adiantou que ainda não há um interesse formal dos maricultores no cultivo.
“Antes vai ser preciso comunicar à Secretaria de Pesca que também estará sendo produzida a macroalga em Penha. De imediato, eu não vejo ninguém com interesse de cultivo, mas, volto a falar, é uma espécie passível de ser cultivada”, acrescentou Manzoni. A produz a carragenana, usada como espessante pelas indústrias química e alimentícia. Só em 2015 o Brasil importou 1.836 toneladas de carragenana ao custo de 16 milhões de dólares.
Manzoni citou ainda, que por conta da grande quantidade de matéria orgânica rejeitada no mar de Penha, a produção local se favorece. “As macroalgas têm a grande vantagem que elas também são filtros biológicos naturais. Elas pegam a carga de matéria orgânica – nutrientes que podem vir de efluentes domésticos – e retiram esses nutrientes da água. Com o sol, fazem o processo fotossintético e crescem. Então, o custo de produção é baixo”.
Apesar do otimismo, o professor também faz ponderações. “É mais uma espécie com potencial de ser produzida. Mas, precisa analisar o outro lado da cadeia. Precisa ter o comprador para esse produto. É importante armar o outro lado da cadeia produtiva com empresas para absorver esse produto […] A macroalga tem um inconveniente: ela precisa ser vendida seca. Então, o produtor consegue produzir no mar, mas também terá que ter uma área para secagem em terra”, finalizou.
LIBERAÇÃO
A Instrução Normativa do Ibama autoriza o cultivo comercial Kappaphycus alvarezii entre os municípios de Itapoá e Jaguaruna. O pesquisador do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Epagri/Cedap), Alex Alves dos Santos, explica que a decisão traz a possibilidade de diversificação dos cultivos marinhos, aumento dos lucros para os maricultores, maior oferta de emprego e renda nas comunidades tradicionais.
“Mais uma boa notícia para o agronegócio catarinense. Ao longo de 2019 fizemos várias tratativas com o Instituto do Meio Ambiente, Ministério da Agricultura, Secretaria de Aquicultura e Pesca e Ibama para a liberação do cultivo de macroalgas em Santa Catarina e hoje colhemos os resultados. Os maricultores catarinenses terão mais uma alternativa de renda”, comemora o secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Ricardo de Gouvêa.
Os estudos para o cultivo de macroalgas em Santa Catarina começaram em 2008 numa parceria entre Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A Epagri/Cedap mantém dois cultivos experimentais de Kappaphycus alvarezii em Penha e Governador Celso Ramos e as negociações para autorização da produção foram retomadas no último ano.
Foto por: Divulgação, Epagri