Uma vasta operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, deflagrada em sete estados brasileiros na última terça-feira, 15, culminou na prisão de um dos principais suspeitos de integrar uma organização criminosa especializada em crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes em Balneário Piçarras. A ação, que visa desmantelar um grupo responsável por crimes hediondos como ódio, pornografia infantil e até mesmo tentativa de homicídio, expõe a grave vulnerabilidade de jovens no ambiente online.
Além da captura em Balneário Piçarras, outro mandado de prisão temporária foi cumprido em Bauru (SP), e sete mandados de internação provisória foram executados em outras localidades. A investigação revela que os suspeitos, em sua maioria jovens, incluindo duas meninas, praticavam atos de extrema violência, como obrigar uma jovem a se automutilar, inclusive com símbolos nazistas, transmitindo as cenas ao vivo em plataformas online. A organização criminosa chegava a criar uma “tabela de valores”, pagando para que outros jovens se ferissem.
O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, destacou ao Jornal Nacional a seriedade da operação: “Uma operação que mostra a gravidade e o perigo que as nossas crianças e adolescentes de todo o país vêm enfrentando”.
As investigações, que duraram dois meses, tiveram início após um chocante caso de tentativa de homicídio no Rio de Janeiro, onde um adolescente de 17 anos lançou coquetéis molotov contra uma pessoa em situação de rua, com a colaboração de um soldado do Exército, que transmitiu a barbárie ao vivo para centenas de pessoas online.
Segundo o delegado Cristiano Maia, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima, os envolvidos na organização criminosa possuem estrutura familiar, não enfrentam dificuldades financeiras e frequentam a escola. Um dos líderes do grupo, um jovem de 17 anos, foi apreendido dentro de uma escola em Criciúma, também em Santa Catarina. O delegado alertou ainda que aqueles que assistem às transmissões dos crimes em tempo real podem ser responsabilizados por associação criminosa, apologia ao nazismo e incitação à prática delituosa.
As autoridades ressaltaram que o anonimato proporcionado por apelidos online não impede a identificação e responsabilização dos criminosos, graças a técnicas modernas e profissionais qualificados. A operação contou com o apoio de agências americanas de defesa dos direitos humanos e proteção à criança, além do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça do Brasil.
Lilian Cintra de Melo, secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça, fez um apelo aos pais e responsáveis sobre a importância de monitorar a atividade online de crianças e adolescentes: “Se a gente fizer a mesma pergunta: você deixaria seu filho falando com estranhos na rua? A resposta é não. Então por que a gente vai deixar criança e adolescente ficar em um espaço completamente exposto sem nenhuma proteção?”.
A prisão realizada em Balneário Piçarras reforça o alcance nacional da rede criminosa e a necessidade de vigilância constante para proteger os jovens dos perigos que espreitam no ambiente digital. A Polícia Civil do Rio de Janeiro segue com as investigações para identificar e responsabilizar todos os envolvidos nessa rede de exploração e violência online.