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Piçarras
quinta-feira 12 de setembro de 2024


Os crimes da droga

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Em 1937 o escritor Jorge Amado imaginou um grupo de crianças desonestas e arruaceiras, que cometiam crimes de diversas espécies, batizados pelo autor como “Capitães da Areia”. Setenta e três anos depois o tráfico de drogas transforma crianças e adolescentes em personagens da ficção da década de 1930. Em Balneário Piçarras já foram registrados na Delegacia de Polícia Civil cerca de 250 casos de furto e roubo nos quatro primeiros meses do ano, a maioria cometidos por jovens usuários de droga.
A diferença entre a história de Jorge Amado é que as crianças em 1930 se tornariam criminosas devido ao abandono e a miséria, hoje, a maioria dos crimes são cometidos por jovens que possuem família e oportunidade de estudo e trabalho. “Por mais que os pais eduquem muito bem seus filhos, alguns nascem com pré-disposição ao vício e acabam entrando nesse mundo por pequenos problemas”, explica o Presidente da Associação Terapêutica Sítio Caminho Novo, Gilberto Cardozo.
O mês de fevereiro bateu o recorde no número de ocorrência, foram 74 furtos registrados e 10 roubos. De acordo com a escrivã da Polícia Civil durante a temporada esse tipo de atividade aumenta. Ela lembra que a quantidade de policiais no município é pequena, o que torna a ação da polícia pouco eficaz. Não existe previsão da chegada de novos profissionais na cidade. Segundo o secretário de Segurança Pública do Estado, Ronaldo Benedet, apesar da vinda de 199 policiais para o estado, eles terão que ser distribuídos aos 293 municípios, e Piçarras ficará de fora.

Como agem
O crack e outras drogas viciantes alteram quimicamente uma parte do cérebro chamada sistema de recompensa. Gilberto explica que quando as pessoas fumam crack, produzem dopamina, que cria as sensações de prazer e euforia, que duram de 5 a 15 minutos. Então, a droga começa a perder efeito, deixando a pessoa desanimada e depressiva, resultando em um desejo de mais para se sentir bem de novo. “E depois daí o viciado é capaz de qualquer coisa para conseguir mais droga”, afirma.
Normalmente os furtos acontecem em dupla, a escrivã acredita que os parceiros de uso da droga costumam agir juntos. Raramente possuem armas de fogo, e costumam vigiar e conhecer o lugar onde vão cometer o furto antes de agir. “É importante que as pessoas registrem o boletim de ocorrências, as vezes encontramos mais coisas mas não sabemos quem é a vítima”, sugere a escrivã.
 

 

Prevenção deve ser intensificada, avalia terapeuta

De acordo com Gilberto o município precisa de um trabalho maior de prevenção as drogas, já que parar o uso dos entorpecentes é mais difícil e exige muito empenho, principalmente do usuário. Segundo a escrivã da Polícia Civil quase todos os 62 presos do município são viciados e estão presos por crimes cometidos devido ao vício. Desde a inauguração da Unidade Prisional de Barra Velha, na segunda-feira 3, apenas 38 continuam detidos no município, o restante foi transferido.
“Em um apanhado geral de viciados em álcool e drogas, podemos dizer que 25% cometem roubos fora de suas residências, já que dentro delas o número é muito maior”, analisa Gilberto. Ele acredita ainda que 50% dos usuários de drogas pratiquem furtos fora de suas casas, e que todos já tiraram coisas de casa para adquirir a droga. “Um viciado em crack fuma uma média de 5 a 10 pedras por dia, visto que cada pedra deve custar R$10, eles são capazes de tudo para conseguir a droga. Como a maioria não trabalha por não ter condições, eles roubam”, ilustra.
Um dos projetos de prevenção do Sítio Caminhar Juntos é o programa Olhar de Perto, que leva os estudantes do município ao centro de reabilitação onde conhecem os trabalhos realizados e recebem palestras sobre drogas. Apesar do sucesso da iniciativa nos anos anteriores, Gilberto lembra que nesse ano nenhuma escola programou a visita no Sítio. “Tínhamos um acordo com a Prefeitura de Penha, porém o secretário de educação não entrou mais em contato para a realização do projeto”, comenta.
O presidente da associação acredita que não existem meios dos pais ajudarem seus filhos se os próprios recusarem ajuda. Atualmente apenas a Associação de Alcoólicos Anônimos age no município na orientação aos familiares. “Devemos lembrar que a maioria dos viciados em drogas começa pela bebida”, comenta Gilberto, elucidando a ação preventiva já no início. (G.B)
 

Foto por: Felipe Bieging | JC

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