Ao longo da vida empresarial, Ivan Joel Fleith concedeu diversas entrevistas. Seja para imprensa ou para grupos sociais. E, certamente, pouquíssimas lhe causaram a angústia da concedida na manhã de quinta-feira, 31 de março de 2022. Na ocasião, falava sobre o encerramento das atividades de sua empresa. Dentro do peito, uma mistura de emoções por saber que sua dedicação encerra um ciclo da história econômica e social de uma cidade pujante. É ainda a autoaceitação de uma decisão sem volta: a Casa Fleith fechará suas portas.
Negócio familiar que nasceu em 1945 pelas mãos do pai Francisco Leopoldo Fleith, momento em que se chamava Casa Praia, os limites da própria idade e o amor pela instituição familiar chancelam a decisão empresarial. “Minha filha Letícia tem outras aspirações profissionais e tenho de respeitar isso, como pai, eu preciso respeitar. Eu, hoje com 76 anos de idade, não tenho mais vigor para continuar atrás do balcão. Então, a decisão foi de encerrar esse ciclo. Agora, é tentar descansar. Descansar o corpo e a mente”, confirma ele.
“Minha filha Letícia tem outras aspirações profissionais e tenho de respeitar isso, como pai, eu preciso respeitar. Eu, hoje com 76 anos de idade, não tenho mais vigor para continuar atrás do balcão. Então, a decisão foi de encerrar esse ciclo”
IVAN FLEITH
O empresário do comércio varejista mais antigo de Balneário Piçarras orgulha-se do caminhado traçado. “Compreendi que é a hora de encerrar esse ciclo. Ao longo das últimas décadas nós acompanhamos e estivemos envolvidos diretamente no crescimento de Balneário Piçarras, de Penha e Barra Velha. Penso que nossa missão foi cumprida”, define. “Agradeço a cada cliente fiel que nos honrou com sua confiança, além é claro, dos nossos funcionários por toda dedicação, em especial, à Bica. Acredito que não deixamos inimigos, mas, estimulamos o empreendedorismo numa próspera cidade. Acho que um comércio varejista com 77 anos de história, aqui no litoral norte, será difícil de se encontrar. Esse, realmente, é um grande legado que vamos deixar, reforça ele.
Como Casa Fleith, a história se inicia em 1975, quando Ivan comprou a empresa do pai – que seis anos antes havia lhe convocado para aplicação de seus conhecimento técnicos de contador. “Vim de Blumenau a pedido do meu pai, pois ele não estava dando conta – e meus irmãos estavam estudando. Aqui, firmei família e consolidei a minha história de vida”, recorda. A época, vendia de tudo. O amplo leque rendeu fama ao negócio. Entre os locais, era na Casa Fleith que se encontrava tudo.
“Antigamente, o ramo que prevalecia na cidade era mais doméstico. Costureiras, pescador, carpinteiro…construtoras, eram poucas. Então, todos esses segmentos cresceram junto com a Casa Fleith, com a cidade. Não trabalhávamos para um segmento, mas, para todos. A Casa Fleith vendia agulha de costura, botão, elástico, anzol, linha, martelo. Não havia segmento que não atendíamos”, comenta. “Temos enorme orgulho de ainda sermos conhecido com a Casa onde se encontra de tudo”, acrescenta Ivan.
“Temos enorme orgulho de ainda sermos conhecido com a Casa onde se encontra de tudo”
IVAN FLEITH
Por conta da decisão, os itens da loja estão sendo vendidos com descontos. Essa decisão ainda impede o empresário de anunciar uma data final de fechamento. Parecer soar como uma pequena relutância de pôr em prática a própria decisão. Também pudera. São mais de sete décadas. Mas, ele avisa: “vamos manter as portas abertas até a hora que pudermos atender no balcão, em liquidação. Depois disso, venderemos de forma direcionada a empresas do ramo”.
Ao final da conversa, no escritório ao final do extenso corredor do histórico prédio situado no número 408 da Avenida Nereu Ramos, questiono. – O senhor está preparado para fechar as portas da Casa Fleith pela última vez? As pálpebras se avermelham. Seu Ivan toma fôlego em meio a uma risada sem graça: “Não. Ainda não me preparei emocionalmente para isso. Realmente, é complicado. Mas, já tive coragem para muita coisa e não me custa mais essa. Vamos em frente”, encerra.
Muito boa matéria. Parabéns Felipe! Um relato histórico para a cidade!! Meu pesar pelo fechamento, mas tb meus parabéns pela contribuição da Casa Fleith para o comércio local!!