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segunda-feira 24 de março de 2025


Bailão do Silva oficializa fechamento de todas as suas atividades

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Se toda história realmente tem um fim, a de uma das principais casas de bailes gaúchos do estado parece ter realmente ganhado seu ponto final. Em união e após um longo período de aceitação sobre alguns percalços vividos, a família Silva decidiu por encerrar oficialmente as atividades do lendário Bailão do Silva. Do gigantesco espaço cravado no centro de Penha, restará apenas as boas lembranças – já que além do fechamento das portas, a família optou pela venda do imóvel para o avanço da construção civil vertical.

Em longa entrevista ao Jornal do Comércio, o casal de empresários, Aldo Silva e Carmen Peixe da Silva, contam um pouco sobre a história da  Casa que nasceu em maio de 1999 – na esquina da rua Antônio Tolentino dos Santos com a Avenida Emanoel Pinto, em Balneário Piçarras. A época, a família mesclava entre uma lanchonete, assadão e bailes, com atendimento quase que 24h por dia. Uma história de puro labor de quem deixou Jaraguá do Sul após um “calote” com a venda de um mercado.

“Muita gente apostava que jamais mais ia conseguir fazer daquilo lá uma casa familiar e a gente conseguiu fazer”

ALDO SILVA
FOTO, FELIPE FRANCO / JC

“A gente veio até Piçarras, levamos um calote em Jaraguá do Sul vendendo um mercado. Viemos para Piçarras e pegamos um negócio falido ali, trabalhamos e trabalhamos. Muita gente apostava que jamais mais ia conseguir fazer daquilo lá uma casa familiar e a gente conseguiu fazer. Tanto que tocava 24 horas direto, e tinha movimento 24 horas por dia, até que cresceu o olho de alguém que acabou tirando nós de lá também”, recorda-se Aldo Silva, hoje adoecido aos 70 anos de idade.

Mal sabia Aldo e Carmen que há males que vem para o bem. Do calote para a história dos bailes gaúchos. Assim se resume os anos de labor do casal – que num coletivo de apoio e sorte conseguiu ingressar no prédio onde até hoje ostenta o letreiro do Bailão.  “Eram em vinte donos aqui. Estava fechado na ocasião, aí o gerente do BESC de Piçarras, que é o cara que tinha arrumado todo o financiamento para esse pessoal, aí ele pegou meu irmão, que trabalhava na época de guarda lá, mandou subir lá em cima para falar conosco para ver se a gente não queria pegar isso aqui. Foi aonde a gente veio”, recorda-se Aldo.

Entre uma conversa e outra, uma ideia aqui e acolá, nasceram a expressão “Tá estressado? Vai dançar no Silva” e a “Sexta 10”. Dois fatos marcantes e que mudaram o conceito da Casa. Nascia a referência absoluta. “Era bonito de ver. Nós aqui criamos dentro do nosso estabelecimento, tinha regras, tinha normas… Então ainda era uma casa onde a família podia frequentar. Muita família frequentava aqui e não frequentava outro lugar, porque aqui tinha regulamento, tinha regra”, reforça Aldo.

Sempre por detrás do envidraçado ponto de vendas interno, Carmen, hoje com 67 anos, afirma que se divertia com todo movimento. Com a casa cheia. “Olha, a gente se divertia junto, porque o baile dava muita gente bonita. Ainda hoje, eu comento, coisa linda, né? Principalmente a sexta-feira, eu ficava olhando de onde que surge tanto jovem lindo? E nos domingos, no Baile da Terceira Idade, era uma ‘velharada’ bonita também. Muita, aquelas mulheres com uma certa elegância, que é difícil de ver”, reforça orgulhosa, lembrando dos grandes nomes do cenário gauchesco que passaram pelo palco do Bailão.

“Primeiro apareceu um cara aqui na sexta-feira tarde, cara estranho que eu nunca conhecia, me pedindo R$ 25 mil em espécie, que ele me garantia o alvará para mais não sei quantos meses”

ALDO SILVA
FOTO, FELIPE FRANCO / JC

OS PERCAUSOS DA CASA
Com o grande movimento de pessoas e o aumento dos regramentos ao setor, certas dificuldades começaram. “Primeiro apareceu um cara aqui na sexta-feira tarde, cara estranho que eu nunca conhecia, me pedindo R$ 25 mil em espécie, que ele me garantia o alvará para mais não sei quantos meses. E, eu não tinha isso em espécie e também não ia bancar esse tipo de malandragem. Aí a coisa já começou a pifar os meus alvarás”, garante Aldo. Posteriormente, fiscalizações do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) ampliaram as dificuldades.

Já com certa impossibilidade de abrir as portas, a realidade de um futuro fechamento veio em uma formatura escolar. Com o aval da justiça para funcionar naquela noite, tudo mudou repentinamente. O baile fora cancelado, em dezembro de 2018. “Meu Deus! Eu pensei que ia infartar, porque foi bem um dia de uma formatura que nós estávamos preparados Assim, de ver a humilhação pra gente, e pra esse povo todo de formandos…Então a gente sofreu muito, foi um susto muito grande, e a gente sofre até hoje. Até hoje estamos na justiça ainda, tem gente querendo receber a indenização de nós, então a justiça fechou bem na hora da formatura”, lamenta Carmen.

O FIM DA HISTÓRIA
Aldo e Carmen confirmam que o prédio do Bailão também irá ao chão. A família formalizou a venda para uma construtora, que irá edificar três torres no espaço. Apesar de o discurso ser de aceitação, é visível à face o sentimento de natural tristeza. Afinal, uma parte da história musical do estado deixará de existir. Mas, ambos compreenderam que o futuro familiar está acima disso.

“Sim, agora a gente está dedicado em cima disso, é fazer uma base para deixar também para os filhos, para os netos e para a gente até enquanto Deus permitir que a gente está por aqui”, confirma Aldo. Carmem endossa: “Serão três torres construídas. Vai ficar a coisa mais linda”.

“A gente levou anos pra conseguir entender que o Bailão do Silva não vai existir mais. Vai ficar coisas grandiosas também, né? Mas que foi muito bom, foi muito interessante pra nós e pra muita gente”

CARMEN SILVA

Mas quando instigados pela história, o coração pulsa de forma mais rápida. “É viver, tocar pra frente. A gente levou anos pra conseguir entender que o Bailão do Silva não vai existir mais. Vai ficar coisas grandiosas também, né? Mas que foi muito bom, foi muito interessante pra nós e pra muita gente”, conclui ela.

Ciente de que a expressão “Tá estressado? Vai dançar no Silva” ainda vai ecoar por anos, Silva confessa a tristeza e se rende aos fatos da vida impossíveis de ser vencidos. “Eu estava já doente. Tive vários problemas de saúde também, mas é uma coisa assim bastante, você imagina, bastante dolorido”, encerra Aldo.

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Bailão do Silva encerra suas atividades em Santa Catarina
9 meses atrás

[…] Uma história que perdurou durante 25 anos terá o seu fim em 2024. A família Silva oficializou que as atividades do Bailão do Silva serão encerradas. A informação é do Jornal do Comércio. […]

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