A última ressaca que atingiu a costa catarinense durante mais de cinco dias e terminou no dia 10 de abril provocou a destruição de casas de veranistas, moradores e agrediu a costa da cidade.
A Rua Armando Petrelli, que vai até a boca da barra do rio Itapocú, foi um dos acessos mais danificados. A pista ficou interditada depois que as ondas passaram para a lagoa e fecharam o trânsito de veículos. Vários moradores ficaram ilhados. Na Barra do Rio Itajuba mais de dez casas ficaram comprometidas, algumas inclusive com perigo de desabamento.
A prefeitura municipal, através da Fundação de Meio Ambiente, interditou uma das casas da Armando Petrelli e durante a semana realizou vistoria das propriedades danificadas pelo mar, numa das ressacas mais fortes dos últimos 10 anos.
A ressaca atingiu o país inteiro e surgiu de uma bomba de água gerada em alto mar com ventos acima dos 80 quilômetros por hora e ondas superiores a cinco metros de altura. A força do mar atingiu a costa de Barra Velha com vários dias de maré cheia e ondas geradas pela ação do vento Sul que ganharam força, superando os dois metros de altura em várias praias da cidade.
A forte ondulação acabou retirando a vegetação de restinga e as dunas, deixando sem areia muitas das praias locais. A mais afetada foi a praia da Barra do Rio Itajuba, onde várias casas perderam seus fundos por estar construídas em cima das dunas. Na Praia do Sol, em Itajuba, o acesso à praia ficou restrito, já que o local usado de estacionamento de carros e passagem foi em grande parte levado pelo mar.
Muitos moradores consultaram a Fundação Municipal de Meio Ambiente sobre a possibilidade de colocar pedras para proteger as casas, mas se depararam com uma negativa por parte do órgão, que segue a legislação nacional. Em Santa Catarina, a Fundação de Meio Ambiente do Estado (Fatma) segue as novas regulamentações do IBAMA que impedem a construção ou reforma de prédios em Áreas de Preservação Permanente. A posição se ampara na Lei Nº 9.605 de crimes ambientais. “A construção de casas em áreas de preservação, em cima da praia, corresponde a um crime ambiental. O licenciamento para reformas dos prejuízos acontecidos nas últimas ressacas não serão liberados”, disse o técnico da Fundema, Rodrigo Mazzoleni.
Entre os agravantes da situação, a ressaca deixou expostas na praia da barrinha fossas e sumidouros, que revelaram a falta de conscientização ambiental dos veranistas que investiram numa construção à beira-mar. As conexões de esgoto em muitos casos eram irregulares, sem fossa ou filtro, despejando os dejetos domiciliares diretamente na areia, incorrendo em crime.
Reformas
Só poderá reformar sua casa o morador que conseguir uma ordem judicial para aquilo. Caso o proprietário da casa não tiver uma autorização legal pode ter a casa embargada por crime ambiental.
A Fundema também informou que os moradores lesados pela ação do mar que realizem reformas poderão ser multados sem a correspondente autorização. Em paralelo, os donos das casas cujos fundos estão caindo para a praia serão responsáveis da remoção de entulhos, que não poderão ficar na areia pelo risco de prejudicar a terceiros.
O morador de Itajuba, Marcos Andreas Junghans, destacou a necessidade de que os próprios moradores tomem consciência sobre a importância da preservação das áreas de restinga para garantir a preservação das dunas. “Queremos dar uma melhorada na cidade, mas é importante que os moradores entendam que cada um deve fazer a sua parte”, comentou.
O Corpo de Bombeiros Militar informou esta semana que não foi solicitada ainda a vistoria técnica das propriedades prejudicadas pelo mar, porém está a disposição da comunidade para avaliar as condições de segurança das residências. Em muitos casos, colunas de sustentação estão expostas, sem base, e poderiam ser abaladas por uma nova ressaca.
O município não vai alterar o estado dos locais mais prejudicados, de acordo com fontes do JC. A previsão da prefeitura é deixar que as praias que perderam sua faixa de areia recuperem sua geografia natural através do ciclo de ação do mar.
Dinâmica
No verão, as ondas que atingem a costa acostumam preencher as praias com areia, aumentando a faixa de praia com cada ressaca. As marés permitem a regeneração da biodiversidade que habita nessas áreas. Já no inverno a maré é destrutiva e as ondas que batem contra a costa retiram areia, diminuindo em grande parte as dunas. Isso é um ciclo natural que acontece a cada ano.
Foto por: Ezequiel Díaz Savino | JC