O envenenamento de cães tem sido uma prática constante em Balneário Piçarras. Há duas semanas, uma série de denúncias foram feitas ao Jornal do Comércio, inclusive solicitando o começo de uma campanha para pôr um basta a este crime contra os animais. Consultado, o veterinário Ricardo de Paulla, confirma o frequente número de casos, dá dicas de como proceder em casos de intoxicação e pede maior fiscalização na venda dos produtos tóxicos.
“É uma prática muito comum. Semanalmente recebo casos de cachorros envenenados, animais domésticos e de rua”, confirma o médico veterinário. As denúncias que chegaram até a redação dão conta de um grande número de cachorros intoxicados na área central de Balneário Piçarras. “Dependendo da dose e do veneno pode ser fatal para o animal”, ressalta Ricardo, argumentando ainda que o atendimento rápido é fundamental.
O ‘chumbinho’ – veneno a base de organo fosforado – e a ‘cachacinha’ – uma mistura do organo fosforado com estricnina – são os mais utilizadas na prática criminosa. Geralmente envoltos por um pedaço de carne, o ‘petisco’ vem sendo lançado nas residências, resultando no envenenamento do animal. “São venenos que causam muita angústia ao animal. Os mais fortes, geram reações assustadoras e fatais”, lamenta Ricardo.
Os sintomas mais comuns de uma intoxicação animal são tremores musculares (mais frequentes nas coxas), salivação acima do normal, angústia, defecação em geléia, fétida e seguida de sangue e coração extremamente acelerada. “A única coisa que se pode fazer, em casa, é dar protetores hepáticos (eparema, epocler)ao animal e levá-lo com urgência à uma Clínica Veterinária”, orienta o veterinária.
Cercada da falta de valores humanos, a prática, para o veterinário, só vem crescendo em virtude da facilidade na compra do veneno – comercializado como sendo para o combate de roedores e pragas. Testemunha ocular, Ricardo comprou na prateleira de um mercado local, um frasco do que seria veneno para rato. “O problema é justamente este. Não de quem joga o veneno para o animal, mas de quem facilita a comercialização”.
Uma denúncia foi formalizada à Vigilância Sanitária e à Polícia Civil, que abriu inquérito para investigar o caso. Isso porque, este tipo de produto só pode ser vendido em agropecuárias. “Infelizmente, uma liminar judicial retirou a exigência de um veterinário responsável nas agropecuárias, facilitando ainda mais a venda”, comenta. Ainda segundo Ricardo, parte das informações contidas no rótulo do ‘Mata Ratos’ eram falsas.
“A solução é uma ação pente fino da Polícia com a Vigilância Sanitária, retirando todo esse material do mercado”, finaliza o médico veterinário. O envenenamento de animais está previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605, de 13/02/98). O artigo 32 da lei diz que é considerado crime ambiental “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. A pena prevista é detenção de três meses a um ano e multa.