O assunto é constante na conversa entre os vizinhos e divide opiniões. Na última semana, o Jornal do Comércio conversou com alguns moradores das seis ruas, na divisa entre Balneário Piçarras e Barra Velha, e ouviu opiniões que divergem sobre o assunto do novo limite territorial, imposto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conversando com um morador de cada uma das ruas envolvidas na disputa judicial de retomada de posse, encabeçada pela Prefeitura de Barra Velha, a reportagem observou uma divisão de opiniões. Enquanto moradores mais antigos querem manter suas raízes barravelhenses, outros ‘recém’ chegados observam Balneário Piçarras como uma cidade ‘mais evoluída’.
“Eu vejo que Piçarras parece ser mais desenvolvida do que Barra Velha”, afirma Paulo Camiliano Alves Corrêa, que mora há pouco menos de um ano na cidade e há quatro meses em Itajuba. Ele atualmente negocia sua residência. Troca por uma mais ao Centro da cidade, ou até mesmo em Balneário Piçarras. “Se houver alguma oferta boa, mudo para Piçarras com prazer”, completou.
A casa de Otílio Pettry, na Rua Porto União, a segunda da polêmica, foi construída há 25 anos. Mas há sete é frequentada diariamente. No diálogo, a tonalidade da voz deixa claro o amor pela cidade de Barra Velha. “A equipe da Saúde de Piçarras já veio aqui e disse que era para irmos nos consultar lá, mas seguimos em Itajuba”, adiantou. Pettry garantiu ainda que a maioria dos vizinhos é contra a mudança.
“Conversei com meus vizinhos e todos são contra. Estão até formulando um abaixo assinado para que estas ruas permaneçam para Barra Velha”, completou. Homem de poucas palavras, Senhor Alfredo divide a mesma opinião, sentando na varanda de sua casa na Rua João Reis de Gós Além do sentimento pela cidade, Alfredo teme a carga tributária do município vizinho. “Os impostos de Piçarras são muito mais caros”, cita.
O mesmo argumento do desenvolvimento municipal é utilizado por Wanderlei de Lima Duarte, que mora na rua limite, a Rua 1002. Ele afirma que a mudança territorial deve agregar valor imobiliário à região “Muda alguma coisa? Mas ainda acho que Piçarras é mais desenvolvida que Barra Velha e agregaria mais valor as nossas residências. Pensando dessa forma, sou a favor”, disse.
Contudo, Michelly Schinler, da Rua Curitiba, pensa diferente. Ela veio do Estado do Paraná em busca de uma nova vida em Santa Catarina e escolheu Barra Velha como refúgio. Jovem, mostra forças e defende o município que a acolheu. “Vim do Paraná para morar em Barra Velha e é aqui que quero ficar. Cada cidade tem suas qualidades e espero ajudar Barra Velha a crescer mais”, opinou.
Das seis ruas atribuídas pelo IBGE a Balneário Piçarras, apenas a Rua Lapa não é calçada. E é de lá que sai a opinião, até certo ponto, mais importante para a coletividade. “Estou em cima do muro”, brinca Carlos Antônio de Figueiredo, mostrando leve preferência por Balneário Piçarras. Contudo, opina com o pensamento voltado à todos. “Quero apenas que os prefeitos se definam e comecem a oferecer os serviços para esta comunidade. Acho que nenhum deles vai nos atender enquanto nada for definido”.
Durante o Censo Demográfico 2010, o IBGE revelou que essas seis ruas de Barra Velha pertencem ao município de Balneário Piçarras. A localização exata da divisa foi aferida por um aparelho GPS (Global Positioning System) com base na Lei Estadual 13.993/07, que dispõe sobre a consolidação das divisas intermunicipais do Estado de Santa Catarina.
A polêmica entre os municípios ganhou força quando a Prefeitura de Balneário Piçarras anunciou oficialmente que começou a oferecer os serviços públicos aos 254 moradores das seis ruas. O anúncio desagradou o Governo de Barra Velha, que entrou com uma liminar pedindo a reintegração de posse. O pedido foi negado, mas um processo judicial segue em tramitação na Justiça, para determinar o futuro das ruas, que segundo a Legislação, seguem sob a jurisdição de Balneário Piçarras.