A criação de peças esculpidas em madeira existe desde os primeiros tempos da civilização humana, com a criação dos primeiros instrumentos . Nascida da vontade de permanecer e ao mesmo tempo documentar um sentimento subjetivo, há seis anos a arte trouxe a André dos Santos uma nova forma de se expressar.
Nascido e criado em Barra Velha, o pedreiro de 36 anos, de família de pescadores, que em 2006 começou espontaneamente a esculpir em madeira num poste de varal da casa, leva até hoje mais de 60 obras concluídas. Suas esculturas estão em cidades como São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Joinville, e o interesse pela sua arte chega até os Estados Unidos.
André é popularmente conhecido como Pataxó, um apelido colocado por seu avó que é a marca das suas obras.
Formas arredondadas, contornos suaves, rasgos marcantes são algumas das características estéticas da sua obra, onde abundam os corpos em movimentos, manifestando uma luta física ou psicológica. “Trabalho com bastantes passagens religiosas ícones da Bíblia, também reflito sobre a escravidão e a morte. Muitas peças expressam sentimentos de tristeza e melancolia. Acho que estes são sentimentos que todos temos”, comentou o artista, que atualmente está finalizando uma das maiores peças realizadas até o momento, onde um homem se esforça por arrancar o tormento espiritual que leva na própria carne.
Os momentos de trabalho surgem espontâneos, quase incontroláveis, e fazem que o artista seja levado à obra como uma forma de atração. “Eu consigo ver rostos e formas na madeira. Elas não estão, mas é como se pudesse ver. A madeira também me permite trabalhar de uma ou de outra forma de acordo com sua dureza e cores”, disse Pataxó.
Renascer
Antes de começar a esculpir, Pataxó atravessou um problema de saúde na mão que não teve nenhum diagnóstico por parte dos médicos. “Minha mão ficou enrugada como mão de velho e perdeu a força. Primeiro acharam que era alergia à cal da construção, mas se fosse isso, o problema teria saído nas duas mãos. O médico pediu para usar luvas. Um tempo depois a reação na mão sumiu, consegui parar de fumar depois de 16 anos e logo depois veio de forma espontânea a necessidade de esculpir. Hoje cada obra é uma grande satisfação”, encerrou Pataxó, que neste final de semana apresenta parte do seu acervo no Festival de Surf, Música e Meio Ambiente na Praia do Costão.
Foto por: Ezequiel Díaz Savino