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segunda-feira 28 de abril de 2025


Pássaro raro é fotografado em Balneário Piçarras

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Balneário Piçarras recebeu na última semana um visitante muito importante, mas quase ninguém viu. Um passarinho de aproximadamente 12 gramas, vindo da América do Norte, resolveu aparecer no quintal da jornalista e observadora de pássaros, Danielle Garcia, que registrou a visita em foto e vídeo.  Há mais de uma semana o visitante circula pelo quintal, sempre pela manhã, no bairro Nossa Senhora da Paz.

A mariquita-de-perna-clara, cujo nome científico é Setophaga striata, tem rara visualização no país. Segundo observadores do site Wikiaves – a enciclopédia de aves do Brasil -, este foi o primeiro registro no site para toda a região Sul do Brasil. Segundo o guia Marco Eugênio, o registro foi interessante e importante. “Essa pequena ave é migratória, vem ocasionalmente lá dos Estados Unidos, sendo que do gênero dela (Setophaga) é a espécie que viaja distâncias mais longas”, lembrou o observador. As outras 15 observações no país foram no sudeste e na região da Amazônia.

O biólogo Guilherme Melo Becher visualizou a foto da jornalista no Wikiaves e resolveu ver de perto a visitante. No sábado, dia 25, pela manhã, Guilherme e a esposa estiveram na casa da jornalista bem no momento da chegada da ave. “Estou muito emocionado. É uma grande alegria poder estar aqui neste momento. Queria muito registrar essa ave por aqui. Agradeço muito a oportunidade da Danielle de compartilhar esse avistamento com a gente”, destacou o biólogo, que veio de Balneário Camboriú para fotografar a ave. 

Segundo especialistas, a mariquita-de-perna-clara realiza a mais longa migração dentre as espécies deste gênero, com alguns indivíduos viajando mais de 8.000 km do Alaska até o Brasil. 

Para Danielle, o registro deste macho da espécie foi uma grande surpresa. Ao avistar o passarinho, pensou ser apenas uma espécie que não tinha, não algo tão significativo para a região. “Vi que era uma ave que eu não tinha fotografado, então fiquei tentando uma boa foto por uns 20 minutos. Achei que fosse uma saíra ou choca. Depois, quando coloquei a foto no Wikiaves e soube da raridade de registros da espécie por aqui, fiquei ainda mais feliz e emocionada”, destacou a jornalista. “Estou fazendo um relato diário das visitas, anotando tudo o que posso sobre os hábitos dela”, afirma. “Tenho o projeto Pássaros do Meu Quintal que tem o objetivo de mostrar para crianças e adultos a beleza de observação de pássaros e que todos podem observar pássaros maravilhosos, até mesmo no seu quintal, no seu bairro. É só ter sensibilidade para observar a natureza. O registro desta mariquita tornou o projeto muito mais especial. Quero ainda fazer um livro sobre essas experiências”, completou Danielle.

A importância do registro
A visita da mariquita-de-perna-clara a Balneário Piçarras neste período é especial pela distância já percorrida pela espécie até aqui.  Segundo SIGRIST, na publicação Avifauna Brasileira, parte da rota migratória se dá sobre o Oceano Atlântico a partir do nordeste dos Estados Unidos para Puerto Rico, Antilhas, ou o norte da América do Sul. Estas aves mantêm médias de 2.500 km sobre o mar, necessitando de um voo potencialmente sem escalas por até 88 horas. 

Em 2015, o site Terra divulgou uma reportagem lembrando que há 50 anos os cientistas tentavam confirmar essa façanha. Uma equipe internacional de biólogos, que publicam os resultados de seu trabalho na revista britânica Biology Letters, está convencida de ter encontrado “provas irrefutáveis”. “Esta é uma das mais longas viagens diretas sobre a água registradas para um pássaro”, explicou um dos autores do estudo, o pesquisador Bill DeLuca, em comunicado divulgado pela Universidade de Massachusetts em Amherst.  “Para alcançar este voo, a mariquita-de-perna-clara praticamente dobra sua massa corporal e tira proveito de uma mudança na direção do vento predominante para encaminhá-los ao seu destino no hemisfério sul”, afirmam.

Na Amazônia e no Sudeste, consta que a espécie acompanha bandos mistos pelas copas das árvores, à procura de frutos entre setembro e junho. Em Balneário Piçarras, os avistamentos no quintal da jornalista, no final de junho, foram de apenas um indivíduo macho, sozinho, que não vocalizou (não cantou), comeu mariposas e frutos das árvores.

Foto por: Danielle Garcia

REDAÇÃO, JORNAL DO COMÉRCIO
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