O professor, escritor e historiador, José Carlos Fagundes, lançou nesta sexta-feira, 8, sua segunda obra sobre a história de Barra Velha. Desta vez, traz um dos episódios mais emblemáticos ocorridos no litoral norte catarinense no já distante ano de 1.926, na pequena comunidade pesqueira: o surgimento de uma seita de fanáticos religiosos nos moldes do messianismo ocorrido no nordeste brasileiro – como no episódio de Canudos – e que por certo, só não tomou maiores proporções porque a repressão policial da época desmantelou o grupo.
“Notícias dos Fanáticos de Barra Velha”, pesquisa traduzida em livro de 76 folhas, editada pela editora Scortecci (São Paulo), trata do aparecimento dessa seita, e das divergências com a população e autoridades locais, e consequentemente, da intervenção policial no distrito.
“Embora pouco lembrado pelos barra-velhenses, o evento teve grande repercussão em todo país”, observa José Carlos, ou Cacá Fagundes, como é conhecido o historiador. “Os principais jornais do Brasil chegaram a publicar artigos sobre o perigo que representava para a ordem pública a irrupção de fanatismo na nossa localidade”, comenta ele.
Fagundes traz dados do grupo que surge em torno do Pescador Manuel Francisco de Bárbara, que benzia e ensinava “garrafadas” e que aglutinaram mais de 400 caboclos pobres do distrito (Barra Velha pertencia a Parati, atual Araquari), que acreditavam no poder sobrenatural do seu líder. Na seita de fanáticos, além do pescador, surge um garoto de 17 anos, o conhecido Amador de Moura, do Rio do Peixe, foi apresentado ao grupo como a própria reencarnação de “Jesus Cristo”.
Uma mulher, Antônia André Soares, da Mantiqueira, era a “Nossa Senhora” – num cenário que chegava a lembrar não apenas Canudos, mas também um roteiro cinematográfico de Glauber Rocha. Em 1924, quando da fundação da colônia de pescadores de Barra Velha, o seu presidente, José Maria Antunes Ramos, indicado pela Capitania dos Portos de São Francisco do Sul, tentou colocar em prática, de forma ostensiva a “lei da nacionalização da pesca”. Foi quando os pescadores e toda população de Barra Velha se revoltaram contra ele.
A postura autoritária e prepotente do latifundiário serrano e ex-deputado provincial pelo Partido Conservador, em relação aos abusos contra a população local, em especial os pescadores, resultaram na tentativa de matá-lo. Como forma de legitimar as prisões dos fanáticos e desqualificar seu líder, os jornais do país acusaram Manuel Francisco de Bárbara de ter sido o autor da tentativa de assassinato de José Maria Antunes Ramos, crime sobre o qual não teve nenhum envolvimento.
José Maria, o presidente da colônia e opressor, foi vítima de um atentado a dinamite, e os verdadeiros autores do delito foram presos, julgados e absolvidos, segundo narra Cacá, na nova obra. Em outubro de 1926, o governador do Estado de Santa Catarina, Adolpho Konder, determinou a intervenção policial no distrito de Barra Velha e a prisão de todos os membros da seita de “Mané Barbara”.
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