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Piçarras
quinta-feira 19 de setembro de 2024


Dona Alcina, muito obrigado.

Foto, Felipe Franco / JC
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No próximo dia 31 de dezembro, ela completaria 98 anos de vida. Em seu significado mais pleno, a vida significa evoluir do nascimento até a morte, neste relato em específico, o desencarne. Ao longo da caminhada, Alcina de Oliveira Figueredo – que nos deixou na última quarta-feira, 15 – seguiu à risca a linha evolutiva de um espírito que buscou a progressão de sua sociedade.

“A minha mãe deixou tanta história bonita. Não foi uma história que tu vais ter uma visão geral das coisas. A vida dela se desenvolveu em ciclos. Ciclos de bondade, ciclos de amor, ciclos de esperança, em ciclos de cultura, em ciclos de educação, em ciclos de esporte e lazer, ciclos políticos. Uma pessoa totalmente bondosa”, definiu a filha Maria Ignez Figueredo – que teve um contato mais intenso com a mãe nos últimos meses de sua passagem.

Já acamada, flutuava entre momentos de lucidez e longo descanso. Corpo e mente davam sinais após mais de nove décadas de pura dedicação social. Foi uma caminhada repleta de aprendizados e ensinamentos. Foi professora, secretária de Educação, esteve vereadora municipal, fundou um dos principais centros espíritas do estado e uniu a terceira idade com a articulação da Associação de Aposentados e Pensionistas de Balneário Piçarras. Mas, o currículo vai além disso. Muito além. Ela era a história viva. Hoje, se tornou uma lenda.

“Uma pessoa que trabalhou por muitos anos para alfabetizar pessoas aqui, foi inclusive a primeira secretária de Educação de Balneário Piçarras. Foi uma profissional que sempre atendeu as pessoas, desde os jovenzinhos de cinco anos de idade até os doutorandos – buscando sempre trocar informações para pesquisas de seus trabalhos”, recorda-se Maria Ignez. A ligação entre Dona Alcina e Balneário Piçarras era especial. Quem conviveu com ela sabia muito bem disso.

Apesar de o último suspiro ter sido dado na cidade gasparense – onde permaneceu sob os afetuosos cuidados integrais da enfermeira Andrelaine – foi no filho Centro Espírita Luz do Evangelho, no historicamente conhecido bairro Furado, que Dona Alcina foi velada. O clima transcendeu a tristeza, num misto de gratidão daqueles que conseguiram conviver com ela. Emocionada, Maria Ignez completou que “a minha mãe, eu posso te dizer, que ela evoluiu e trouxe uma evolução para esse lugar. Ela evoluiu com a cidade e a cidade evoluiu com ela. Ambos se pertenciam, eram muito próximas historicamente”.

Seu corpo foi cremado na cidade portuária de Itajaí. Mas, naquele instante, era unicamente matéria – conforme princípios religiosos de Alan Kardec, dos quais Dona Alcina comungava. A história já estava escrita e caprichosamente eternizada. “Um legado – que outras pessoas que estão fazendo uma história tão bonita por essa cidade também deixarão – mas a minha mãe ela viveu para Piçarras. Viveu para Piçarras integralmente […] Piçarras e a mãe eu acho que são uma coisa só. Ela não passou apenas”, encerrou Maria Ignez.

A família ainda não decidiu qual última homenagem prestará. Suas cinzas serão reservadas para tal ato. Mas, certamente não haverá momento capaz de denotar a real gratidão pelos 98 anos de exemplo – vividos na plenitude por José, Arno, Alexandre (em memória), Maria Ignez, Maria da Graça e Maria da Glória, seus filhos, criando a casta de 15 netos, 24 bisnetos e um tataraneto. Pode-se dizer que Dona Alcina descansou. Até breve.

Foto por: FELIPE FRANCO, 2006, JORNAL DO COMÉRCIO

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