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sexta-feira 2 de maio de 2025


Dentro da BMW: Intoxicação por monóxido de carbono é a causa das quatro mortes

Foto, PMSC
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Intoxicação por monóxido de carbono – decorrente das alterações falhas no sistema escapamento do veículo de luxo – foi a causa da morte dos quatro jovens que foram encontrados desacordados dentro do automóvel, dia 1º de janeiro, em Balneário Camboriú. A Polícia Civil de Santa Catarina (PC/SC) confirmou a informação em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, 12.

A informação foi oficializada na fala do perito criminal, Luiz Gabriel Alves de Deus. Ele detalhou que a substituição da parte inicial da tubulação junto ao motor por um donwpipe (que eleva a vazão de gases e dá maior potência às turbinas) rompeu parcialmente. Essa situação provocou o vazamento do monóxido de carbono. Com o veículo parado, o tóxico gás acabou se concentrando no cofre do motor e foi aspirado pelo ar-condicionado.

“Esse rompimento resultou em extravasamento de grande volume de monóxido de gases de combustão […] eles preenchem ali o cofre do motor, extravasam por baixo, pelas laterais e adjacências, e ele foi succionado pelo ar-condicionado, levando a criar uma atmosfera tóxica dentro do habitáculo do veículo”, narrou o perito da divisão de engenharia da Polícia Cientifica. Ele pontuou que a situação se potencializou diante do carro estar parado, na Rodoviária.

“Eu quero destacar que essa situação é potencializada pelo veículo em repouso, ou em velocidade baixíssima O veículo em movimento, andando normalmente, forma uma certa ventilação, escovamento de ar, ele tende a fazer o arraste desses gases, então é uma situação mais segura. Mas, nesse caso, com o rompimento da peça, o grande volume de monóxido extravasado e o veículo em repouso por tempo prolongado acabou resultando nessa atmosfera tóxica dentro do habitáculo”, descreveu Luiz Gabriel.

“Mas, nesse caso, com o rompimento da peça, o grande volume de monóxido extravasado e o veículo em repouso por tempo prolongado acabou resultando nessa atmosfera tóxica dentro do habitáculo”

LUIZ GABRIEL ALVES DE DEUS

Os testes foram realizados no veículo modificado e em um original de fábrica – que foi cedido pela montadora, que colaborou espontaneamente com as investigações. Replicando o episódio do veículo parado por horas com o automóvel original, o nível de monóxido de carbono foi de zero. Já no modificado, em 16 minutos, foi possível aferir níveis do gás com capacidade para intoxicação e morte.

O delegado, Vicente Soares, coordenador da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Balneário Camboriú, afirma que o inquérito policial ainda não está concluído e que irá ouvir os responsáveis e mecânicos da empresa responsável pelas modificações no sistema de escapamento.  Soares não descarta que “eles podem ser responsabilizados. Vão ser ouvidos todos envolvidos nessa montagem do equipamento e sim, eles podem vir a ser responsabilizados por homicídio culposo”.

Os jovens – que eram de Paracatu e Patos de Minas, no Noroeste de Minas Gerais, mas residiam há um mês na capital catarinense – vieram para Balneário Camboriú buscar uma amiga mineira. De lá, regressariam à Florianópolis. Perderam a vida Gustavo Pereira Silveira Elias (24 anos), Tiago de Lima Ribeiro (21 anos), Karla Aparecida dos Santos (19 anos) e Nicolas Kovaleski (16 anos).

PERÍCIA
A Polícia Científica chegou na rodoviária de Balneário Camboriú por volta das 8h50para atendimento de local de crime. Os corpos já sem vida estavam dispostos fora do carro, sob a calçada, depois do atendimento de urgência e emergência do Samu. Não foi identificada a presença de drogas no veículo e nem sinais de violência nas vítimas. Foram realizadas análises preliminares no veículo.

Os corpos chegaram ao setor de Medicina Legal da PCISC às 10h15, e os exames necroscópicos iniciaram às 10h40. Como as vítimas apresentavam evidentes características de asfixia, foram colhidas amostras de sangue e urina para realização de exames laboratoriais necessários à elucidação do caso, incluindo a quantificação de monóxido de carbono. Os corpos não apresentavam lesões traumáticas, descartando possíveis ações de terceiros.

O setor de Toxicologia Forense analisou as amostras e descartou a presença de entorpecentes, venenos e bebidas alcoólicas nas vítimas. Já os exames de carboxihemoglobina acusaram níveis fatais de monóxido de carbono, superiores a 50% em três vítimas e, entre 49% e 50%, na quarta vítima, confirmando asfixia por monóxido de carbono como causa das mortes.

POR QUE O GÁS É TÃO FATAL?
O monóxido de carbono inalado se liga à hemoglobina, a proteína dos glóbulos vermelhos que confere ao sangue sua cor vermelha e permite que ele transporte oxigênio. O monóxido de carbono impede que o sangue transporte oxigênio e, como resultado, os tecidos do corpo não recebem oxigênio suficiente.

Ao final da coletiva, o delegado-geral da PC/SC, Ulisses Gabriel, falou da periculosidade da situação e que, mesmo que o SAMU tivesse sido acionado com antecedência (a primeira chamada foi às 7h21, ), “se constatasse imediatamente que era uma situação de monóxido de carbono, a ação necessária era uma transfusão sanguínea. Porque se não fizer a transfusão, aquele processamento daquelas células vai continuar acontecendo. E aí, quem é que vai conseguir constatar isso num primeiro momento?”.

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