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segunda-feira 14 de outubro de 2024


Univali inicia estudos sobre nova espécie de mexilhão encontrada no cultivo de Penha

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Pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) identificaram a presença de uma nova espécie de marisco associados aos cultivos de Penha – e também de outras localidades de estado. Conhecido por mexilhão-verde (Perna viridis), o molusco vem se instalando nas cordas de cultivo da espécie nativa, o Perna perna, situação que motivou a equipe da universidade a iniciar um monitoramento mais aprofundando sobre a presença desta espécie no litoral catarinense. O mexilhão-verde é comestível e possui potencial econômico.

“Começamos um trabalho no início do ano, junto com os maricultores e a equipe da EPAGRI/Penha, para levantar ocorrência desses mariscos nas cordas de cultivo e em cabo coletores”

GILBERTO MANZONI
FOTOS, UNIVALI/PENHA

“Ele vinha ocorrendo de maneira mais esparsa em Santa Catarina. Mas, a partir desse ano, a gente tem verificado uma ocorrência maior aqui na Penha. Então, o que que a gente está fazendo como Univali?  Começamos um trabalho no início do ano, junto com os maricultores e a equipe da EPAGRI/Penha, para levantar ocorrência desses mariscos nas cordas de cultivo e em cabo coletores”, explica o oceanógrafo com mestrado e doutorado em aquicultura e professor da Univali, Gilberto Manzoni.

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Os pesquisadores retiram periodicamente amostras do mexilhão-verde encontrados nas cordas de cultivo do Perna perna. “A gente mede o tamanho deles, vê a classe de tamanho e faz identificação do sexo, principalmente, para ver qual o tamanho de primeira maturação. O que a gente tem observado, assim, que realmente teve um recrutamento no início do verão e esses mariscos estão crescendo agora ao longo do ano e ainda estão aptos a se reproduzir a partir do tamanho de 1,5 cm”, acrescenta Manzoni.

A equipe também instalou cabos coletores nas áreas de cultivo de Penha para avaliar o assentamento dessa espécie em cada estação do ano.  “A gente vai monitorar o assentamento em cada época do ano. Ocorre que ele vai continuar presente, isso é uma tendência natural. Agora vamos ver o crescimento e sobrevivência dele. Temos apenas a preocupação que no costão ele possa vir ocupar o lugar da espécie nativa”, reforça o pesquisador.

“Eu enxergo como um organismo que a gente vai ter que conviver com ele, cada vez obter mais informação e, claro, tentar aproveitar o máximo desse recurso, como potencial para ser explorado”

GILBERTO MANZONI

“Além disso, sou parceiro de projeto ‘Ocorrência de distribuição do mexilhão exótico Perna viridis na costa catarinense e avaliação do seu potencial impacto sobre a atividade da Maricultura no Estado’, que a minha colega da Univali, a oceanógrafa e professora Mayara Carneiro Beltrão, aprovou junto à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado Santa Catarina (FAPESC).  O objetivo deste projeto é recorrer o litoral de Santa Catarina, incluindo as áreas portuárias e de cultivo, coletar estes mexilhões, avaliar sua ocorrência e fazer uma caracterização genética destes organismos”, adicionou Manzoni.

Ele afirma que os estudos buscam obter um conhecimento pleno sobre os ciclos do mexilhão-verde para que a maricultura local e de Santa Catarina também posso explorá-lo positivamente nas vertentes econômicas. “Eu enxergo como um organismo que a gente vai ter que conviver com ele, cada vez obter mais informação e, claro, tentar aproveitar o máximo desse recurso, como potencial para ser explorado”, complementa.

O mexilhão-verde é comestível, desde que seja colhido em áreas monitoradas e adequadamente processado antes do consumo. “Ele é cultivado no sudeste asiático, na China, Nova Zelândia, Austrália, então, não tem por que não se consumir ele. Tranquilamente é consumível. Já tem uma certa procura em alguns locais pela coloração esverdeada. Eu acho importante salientar que ainda é um caminho e que a gente vai ter que trabalhar muito com as duas espécies”, analisa Manzoni.

“Já tem uma certa procura em alguns locais pela coloração esverdeada”

COMO CHEGOU AQUI?
O pesquisador da Univali destaca que “basicamente essa espécie já vem ocorrendo no Brasil. As primeiras ocorrências foram no Ceará e aí ele começou a descer o litoral brasileiro por dois fatores: principalmente pelas águas de lastro dos navios que chegam nas áreas portuárias e por conta da corrente costeira”. Ele enriquece sua opinião com números econômicos alusivos à questão da navegação.

“Um dado interessante é que 80% do comércio internacional ocorre por navio, e esse tráfego mundial é muito grande. Pois 90% da economia de produtos de importação ocorrem por navios aí. Então esses mexilhões possivelmente tenham vindo com água de lastro, se instalaram no Nordeste brasileiro, e como do Nordeste para cá a gente tem a corrente do Brasil, que é uma corrente costeira, em direção a região sudests-sul, possivelmente eles foram descendo também”, detalha.

A presença do mexilhão-verde é tratada como uma espécie invasora. Contudo, o termo não está associado a questões negativas. “O termo invasor é porque é um termo que se usa porque é uma espécie que não é nativa daqui. Ele tem uma qualidade similar ao Perna perna, que é o nosso mexilhão”, finaliza.

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