O envelhecimento da população brasileira é um fato. Em todo o País, 15 milhões de pessoas ? 8,6% da população ? já passaram dos 60 anos. As estimativas indicam que em 2025 o Brasil terá mais do que o dobro do número de idosos existente hoje: 32 milhões. O grande desafio é fazer com que eles consigam preservar sua autonomia e criar condições para que possam permanecer junto a sua família e comunidade. Uma iniciativa nesse sentido é o Programa Nacional de Cuidadores de Idosos, parceria dos ministérios da Saúde e da Assistência Social.
O programa, ainda sem data de lançamento definida, beneficiará idosos que dependem de suas famílias, de terceiros ou de instituições de longa permanência para sua sobrevivência. O projeto irá capacitar familiares e trabalhadores de instituições de idosos para cuidar adequadamente dos mais velhos. Estima-se que cerca de 700 mil pessoas e suas famílias, o equivalente a 5% da população idosa do país, serão beneficiadas pelo programa.
A parceria entre os ministérios da Saúde e da Assistência Social busca, ainda, a realização de estudos e pesquisas epidemiológicas sobre as doenças e agravos mais prevalentes para quem tem mais de 60 anos de idade. Os estudos vão avaliar os impactos desses problemas no idoso, em sua família, na sociedade, na previdência social e no setor de saúde.
“Pretendemos evitar as hospitalizações e as internações nos asilos”, afirma a médica Neidil Costa, coordenadora de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde. “Queremos também humanizar os profissionais das instituições que cuidam dos idosos. Há muitas queixas de maus-tratos nesses lugares. Os maus-tratos acontecem pelo desconhecimento de familiares ou profissionais das reais necessidades dos idosos”, assinala.
O governo federal também apóia os Centros Colaboradores. Existem 26 centros no país, todos ligados a universidades. Eles atuam principalmente no treinamento de profissionais para tratar de pessoas acima dos 60 anos, mas também atendem os idosos em situações de diagnósticos mais complexos.
Política
No começo de um novo milênio, o Brasil pode ser considerado um país de população idosa. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), um país em desenvolvimento tem população idosa quando 7% dos habitantes são maiores de 60 anos.
Para proporcionar um atendimento digno aos idosos, em 1989 o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional do Idoso, que se transformou na Coordenação de Saúde do Idoso.
Em 1994, surgiu a Lei 8842, que instituiu a Política Nacional do Idoso. Dois anos depois, a lei foi regulamentada. A ONU estabeleceu, em 1999, o Ano Internacional do Idoso. Foi quando o Ministério da Saúde inaugurou as campanhas anuais de vacinação do idoso contra a influenza (gripe), que atingem 11 milhões de pessoas. No mesmo ano, o ministério, por meio da Portaria GM/MS Nº 1395/99, instituiu a Política Nacional de Saúde do Idoso.
Expectativa de vida
O envelhecimento populacional brasileiro é conseqüência da queda do número de nascimentos que vem ocorrendo no país, desde os anos 60, com a descoberta de vários métodos anticoncepcionais, principalmente a pílula. Some-se a isso o aumento da expectativa de vida, por conta de avanços tecnológicos como a invenção dos antibióticos e vacinas.
Na década de 30, o brasileiro tinha expectativa de vida de 33 anos. Atualmente, os homens têm perspectiva de viver 69 anos e as mulheres, 72. “A nossa população idosa cresceu com muita rapidez. Na Europa, essa mudança levou 200 anos”, assinala Neidil Costa. “No Brasil, a expectativa de vida aumentou, mas o sistema social e de saúde e a sociedade não se prepararam adequadamente para atender a este desafio do envelhecimento”, acrescenta.
A coordenadora de Saúde do Idoso acredita que antes o sistema brasileiro era mais preparado para tratar doenças agudas do que crônicas. As primeiras se manifestam apenas em um determinado momento, como uma gripe ou pneumonia, ao passo que as crônicas acompanham o paciente ao longo de sua vida.
“Antigamente, com a predominância das doenças agudas infecciosas, havia duas alternativas: ou o doente morria ou curava-se. De um modo ou de outro, saía do sistema e não sobrecarregava a rede de saúde. Do ponto-de-vista da saúde, as doenças crônicas, não transmissíveis, exigem tratamentos caros e prolongados e uma demanda constante dos serviços especializados de saúde”, observa Neidil Costa.
Envelhecimento saudável
Envelhecer sem nenhuma doença crônica é mais a exceção do que a regra. Estudos brasileiros têm demonstrado que, entre os idosos, a grande maioria (mais de 85%) apresenta pelo menos uma enfermidade crônica e cerca de 15% têm pelo menos cinco dessas doenças, como a hipertensão e as diabetes.
A Coordenação de Saúde do Idoso atua pela promoção do envelhecimento saudável. Essa promoção tem como objetivo principal manter o idoso na família, com o máximo de independência. “Queremos que o idoso sobreviva dignamente e realize todas as suas atividades diárias, mesmo que sofra de uma doença crônica”, afirma Neidil.
Para a promoção do envelhecimento saudável, o Ministério considera fundamental a preparação das unidades e dos profissionais de saúde para atender o idoso. A coordenadora acha importante o aproveitamento da capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) e que o paciente receba o atendimento em sua comunidade, salvo situações graves, que exijam seu deslocamento para locais mais distantes. “Não faz sentido um idoso do interior de Goiás, por exemplo, ser encaminhado a Brasília ou Goiânia por problemas que podem ser resolvidos nos serviços de saúde próximos a sua residência ou no Programa de Saúde da Família (PSF)”, comenta Neidil.
Com esse foco na ponta do atendimento, o Ministério quer que os profissionais de saúde estejam preparados para cuidar dos idosos e que eles identifiquem facilmente as principais doenças que atingem a faixa etária acima dos 60 anos.
Nesse novo modelo de saúde, o PSF funciona como porta de entrada para o idoso no SUS. Os profissionais de saúde alertam a comunidade para os fatores de risco a que as pessoas idosas estão expostas, em casa e fora dela. Em parceria com grupos de idosos e familiares, esses profissionais podem ajudar a buscar soluções para eliminar ou minimizar os problemas dos idosos.