Quantas vezes você foi até a farmácia, pediu um antibiótico para garganta ou outro problema corriqueiro de saúde, e levou o remédio sem nenhuma preocupação? Isso ocorre sem problemas pelo fato dos antibióticos não serem controlados e a maioria das farmácias não exigirem receita médica para efetuar a venda. Porém, a situação está para terminar, e até o fim do ano a compra de antibióticos só poderá ser feita mediante a apresentação de uma receita que será retida na farmácia ou drogaria.
Os termos e a forma de implantação dessa proposta serão submetidos a uma consulta pública pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no máximo em um mês, e a previsão é que ela entre em vigor em setembro. Atualmente, a regra determina apenas que o paciente apresente a receita, mas ele pode ir embora do estabelecimento com ela. Mesmo essa exigência, porém, costuma ser descumprida, e o medicamento é vendido sem prescrição, como reconhece a própria Anvisa e é confirmado por farmacêuticos da região.
Esse foi um dos motivos que levaram o órgão a propor regras mais rígidas para a comercialização de antibióticos. O outro é evitar a automedicação e o uso incorreto, que podem tornar as bactérias resistentes aos medicamentos e dificultar o tratamento de algumas doenças e infecções.
De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) publicados no dia 30 de março, mais de 50% dos pacientes tomam antibiótico apenas por um dia, o que indica uma baixa adesão ao tratamento. Isso pode tornar a bactéria mais resistente a esse tipo de medicamento. Outro problema é o uso de antibióticos para o combate a infecções virais. Segundo uma pesquisa realizada pelo urologista José Roberto Colombo Jr., do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, a automedicação eleva os risco à cistite, por exemplo, podendo causar a morte.
Para o farmacêutico Douglas, da FarmaFaita, essa proibição pode diminuir as vendas e aumentar o custo para quem costuma utilizar esses medicamentos. Apesar disso, ele acredita que a exigência deve aumentar as consultas a médicos e diminuir os atos de automedicamentos.
A Anvisa também colocará os quatro tipos de antibiótico mais vendidos sob um controle ainda mais rigoroso. São eles a azitromicina (conhecidos como Astro, Azimed), o sulfametoxazol (Bactrim, Diazol, Espectrin, Infectrin), a amoxicilina (Flemoxon, Bronco Amoxil) e a cefalexina (Cefaxon, Ceflexin, Cefaxon) usados em mais de 1.500 medicamentos.
Durante a audiência pública, no dia 30 de março, sobre a proposta, integrantes do Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Infectologia disseram aprovar as mudanças. O representante da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), Sérgio Barreto, afirmou que a sua entidade também está de acordo, mas criticou o SUS (Sistema Único de Saúde) por não disponibilizar todos os medicamentos de que a população precisa.
O presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, respondeu dizendo que isso não retira dos estabelecimentos a obrigação de obedecer à legislação sobre a prescrição dos medicamentos. “A gente está discutindo essa regra porque ela é descumprida todos os dias.”
Maioria das farmácias tem sistema de dados sobre medicamentos
O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Dirceu Raposo de Mello, afirmou durante a audiência do dia 30, que os dados sobre o consumo de medicamentos controlados no Brasil são “seguramente maiores” do que o que foi apresentado no primeiro relatório do SNGPC (Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados).
O SNGPC foi implantado em 2007 e 2008 e permite monitorar eletronicamente a venda de medicamentos controlados feitas em farmácias de todo o país. Entretanto, a Anvisa admite que os dados desse primeiro relatório apresentam “limitações”, já que apenas 62% das drogarias brasileiras aderiram aos sistema.
De acordo com a pesquisa feita pelo Jornal do Comércio em 15 farmácias de Balneário Piçarras, Penha e Barra Velha, apenas quatro não fazem parte do SNGPC. Um número significativo visto a percentagem de estabelecimentos que aderiram o sistema em todo o país. Algumas redes, de acordo com o órgão, não participam do monitoramento por força de liminar, alegando impossibilidade de captura eletrônica do número do lote do medicamento. “O benefício do sistema está no controle efetivo, em tempo real, das transações que ocorrem nas farmácias”, explicou Raposo.
Emagrecedores estão na mira
Os farmacêuticos da região não sabem precisar qual época do ano os remédios emagrecedores são mais procurados, já que vendem diariamente dezenas deles. Conhecidos por ajudar na eliminação de peso rapidamente, as anfetaminas são mais populares do que se pode imaginar.
Dos quatro medicamentos para emagrecer mais consumidos no país, segundo a Anvisa, três são anfetaminas, drogas sintéticas que podem causar dependência no caso do uso abusivo. São os medicamentos anorexígenos à base de anfepramona, mazindol e fem-proporex. Outro conhecido é o inibidor sibutramina.
Os remédios à base da substância terão controle mais rigoroso a partir deste mês, já que, de acordo com a Anvisa, podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares. O farmacêutico Douglas confirma que a venda de emagrecedores é muito grande no município. “Vende como água”, completa. Um exemplo é Rose*, 33 anos, que se arrepende até hoje de ter tomado o primeiro comprimido de Sibutral, há alguns anos. “Eu não sou dependente dele, posso parar quando quiser. Mas sem ele engordo dezenas de quilos em poucos meses”, lamenta a jovem que pesa 93kg e chegou a pesar 60kg com a ajuda do remédio.