O cumprimento das novas regras da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) para combater a superbactéria KPC, que impedem a venda de antibióticos de tarja vermelha sem receita médica, ameaçam provocar polêmica no município. Uma sobre-demanda de consultas em busca de receitas poderia saturar o sistema de atendimento médico durante a temporada de verão.
Atualmente, as novas regulamentações exigem que as receitas sejam feitas em duas vias, uma para o paciente e uma para a farmácia, além de ter um prazo de 10 dias. As medidas valem para mais de 90 substâncias antimicrobianas, que abrangem todos os antibióticos com registro no país, com exceção dos que têm uso exclusivo no ambiente hospitalar.
De acordo com o diretor do Programa de Estratégia da Família dos postos da saúde, Maurício Coimbra, os antibióticos representam 40% dos medicamentos prescritos pelos médicos no serviço de saúde pública. O principal problema poderá acontecer entre as vésperas de Natal e Ano Novo, quando a população da cidade chega a dobrar seu número. Desde cremes, passando por pílulas via oral até injetáveis, os antibióticos somente perdem para os analgésicos, contra a dor e inflamação, e os controlados como diabetes e hipertensão.
Pomadas contra fungos ou cicatrizantes, muitas vezes utilizadas para combater o início de um problema de infecção, poderão ser difíceis de comprar em curto prazo se o caso não é de urgência e demanda de uma consulta marcada. Até o dia do atendimento as micoses poderiam se estender, demandando ao mesmo tempo drogas mais fortes.
Consultas
Apesar da situação, Coimbra destacou que as novas normas não irão alterar o funcionamento do posto de saúde 24 horas nem dos postos do Programa de Estratégia da Família, porém reconheceu que desde o cumprimento da nova norma houve um aumento de 18% no número de consultas. Das 20 consultas a mais, 09 tiveram antibióticos receitados. “Os médicos do PA ou o posto entregarão a receita de um medicamento genérico que poderá estar na farmácia comunitária. Caso não estiver a disposição o paciente poderá pedir o medicamento numa farmácia privada”, explicou Coimbra.
O diretor do Programa considerou também que o Ministério da Saúde deveria ter previsto o impacto da medida no SUS e repassado 20% mais de recursos para a contratação de pessoal que possa atender a previsão de mais consultas.
O número de mortes pela superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) tem se registrado em ambientes hospitalares como resultado da mutação genética das bactérias, porém existe a suspeita de uma disseminação fora deste campo. A automedicação é um dos principais problemas para o fortalecimento da superbactéria.
Para a farmacêutica Kelly Cristina Rossetto Henz, as novas normas prejudicam apenas o atendimento dos pacientes. “Não temos médicos suficientes para atender a população e não haverá agilidade no tratamento de infecções rápidas. Vai ser um caos. Existem consultas na saúde que demoram dois ou três meses. O paciente aguardar por uma resposta para ter receitada uma pomada cicatrizante ou uma pomada para tratar o sapinho na boca de um bebê é um prejuízo para a comunidade”, considerou a farmacêutica.
Para o morador Nery Lima, o resultado da norma trará uma superlotação do PA na temporada alta, provocando a muitos dos visitantes e moradores sejam forçados a ir até Joinville para ser atendidos. “A norma vai prejudicar o atendimento inclusive na temporada baixa. Barra Velha é uma dos únicos municípios que não tem crescido na saúde desde há muito tempo”, encerrou.
Foto por: Ezequiel Díaz Savino|JC